sexta-feira, maio 06, 2005

Censura no século XXI


Hoje vou falar da Lei de Entretenimento Familiar e Direitos Autorais, a mais nova maluquice moralista idealizada pelo presidente George W. Bush.
Para quem não sabe, esta nova lei permite a comercialização de DVDs de filmes mutilados de cenas "indesejáveis", mesmo que à revelia do autor. Existem várias empresas a realizar esse tipo de "serviço" nos EUA. Elas adquirem uma cópia legal do filme, alteram-na segundo seus próprios critérios e revendem o DVD original acrescido da versão "familiar". Como garantia de que as regras de copyright estão a ser respeitadas, o disco original vem inutilizado!
Essas firmas, deixam sempre claro que estão a negociar variantes modificadas dos originais, versões "limpas", e consideram-se prestadoras de serviços a pais preocupados com a formação moral de seus filhos. As cenas cortadas costumam incluir violência, nudez, actos ou insinuações de sexo e até palavrões ou apenas invocações do nome de Jesus em vão!
É claro que os pais podem escolher não mostrar certos filmes que os seus filhos ainda não consigam interpretar e compreender, não precisam que o governo apoiado em algumas empresas defensoras dos "bons costumes" lhes diga o que é certo e o que está errado, padronizando as opiniões e retirando o poder de escolha a todos nós de reflectir-mos sobre o que vemos.
Mas há mais, como resultado da nova lei, diversos filmes foram já alvo de cortes, entre os quais "Spongebob". De acordo com as autoridades, o popular desenho animado viu várias cenas censuradas por, supostamente, fazerem alusão à homossexualidade. A porta-voz da empresa responsável pelos cortes, Sandra Teraci, adiantou que a medida não se trata de uma perseguição aos direitos dos gays, "Apenas não acreditamos que esse estilo de vida deva ser glorificado. E isso é crescente em cada vez mais géneros de filmes".
Mas quem são eles para decidir o que deve ou não deve ser glorificado? Isto já me faz lembrar o antigo regime onde os filmes eram censurados para que as pessoas não se lembrassem de pensar coisas nefastas ao regime, pelos vistos na "terra da liberdade" ainda estão numa ditadura. Mas porque parar nos fimes? Vamos censurar os livros também, porque não retiramos capítulos inteiros ou queimamos os livros "impuros" numa grande e bonita fogueira! Mas já agora podemos também censurar a história podemos fazer uma 2ª guerra mundial sem o holocausto, acho que muito iriam gostar disso, ou porque não a intervenção no Iraque sem falar do pretexto das armas de destruição massiva e falar só da libertação do povo iraquiano?
Felizmente aqui ainda podemos ver os filmes "inteiros" e conhecer a história como ela foi, mas se um dia me tornar um assassino ou um maníaco sexual, dificilmente terá sido por causa de Rodriguez, Fincher ou Tarantino.
Nas palavras de Hélio Schwartsman finalizo "Para o pensamento, não devem existir barreiras ou tabus. Acho que essa é uma lição valiosa que precisa ser aprendida desde cedo e por todos".