quinta-feira, março 31, 2005

O caso Schiavo

O que levou à morte da Terri Schiavo não foi a eutanásia, pois é proibido ou não fossem os EUA um antro de puritanos (antro e puritanos estão na mesma frase e não é por acaso), mas outra coisa diferente, é que Terri, antes do incidente que a deixou com graves sequelas neurológicas, tinha dito por mais que uma vez o desejo de não ser mantida viva artificialmente. Os pais não conseguiram anular essa prova, donde se presume que ela tenha de facto dito isso (o que, convenhamos, é um desejo perfeitamente normal). No fundo, o que a Justiça norte-americana fez foi é implementar a vontade de Terri.Agora pergunto se foi justo que ela morresse de sede e de fome. Tudo acabaria muito mais rapidamente se a legislação norte-americana permitisse, como a holandesa, a utilização de injecções letais. Esse, porém, não é o caso. Deve-se também frisar que eliminada a angústia provocada pela sede e pela fome, que Terri não é capaz de sentir, a morte por desidratação é um pouco menos horrível do que parece. Os desequilíbrios electrolíticos provocados pela falta de água levaram-na a um coma e daí à morte, por falência de órgãos vitais. Se fosse um cão, um cavalo ou um preso, certamente receberia uma injecção de misericórdia. A lei americana, porém, não lhe deu essa possibilidade. Ela só pôde morrer por recusa de tratamento, o que definitivamente soa a hipocrisia. Quanto aos “moralistas defensores da vida”, desconfio sempre daqueles que se agarram demais a roteiros morais escritos vários séculos atrás. Que preferem uma vida vegetal durante anos a fio à morte com dignidade e por outro lado defendem e aplicam a pena de morte...