quinta-feira, outubro 27, 2005

Crime do Padre Amaro no Cinema!

Sendo uma das mais conhecidas obras de Eça de Queirós, foi difícil de aceitar que tivesse sido um mexicano, Carlos Carrera, a transpô-la pela primeira vez em 2002 para o grande ecrã - numa adaptação muito decente. Três anos depois, eis uma versão portuguesa de "O crime do padre Amaro", que diz querer ser pedagógica, mas mais não faz do que apropriar-se abusivamente do título clássico. Pior a emenda do que o soneto é dizer pouco.Nada parece ter sobrevivido do texto original neste filme de Carlos Coelho da Silva que concentra a acção no bairro da Bela Vista, em Lisboa, em pleno séc. XXI. Há gangs de bairro, tensão racial e despiques de hip-hop. Há uma Amélia que em vez de devota é devassa, e um Amaro que parece só ter ido para o seminário por um fetiche de Nossa Senhora. Pelo meio, um retrato tão ridiculamente estereotipado do meio urbano, que só lhe falta pedir esmola.Não que a obra de Eça saia minimamente beliscada por isto - está num patamar intocável - e se o escritor está agora a dar voltas na tumba é certamente porque gostaria de estar vivo para poder rir e escrever sobre o assunto. Nem duvidemos por um instante das boas intenções da produção e do cineasta, "trazer a literatura à actualidade", afiançam as notas de produção, mas perante isto urge gritar Parem por favor! No dia do juízo final, e rezemos para que ele chegue, alguém vai ter de pagar.

Não fui eu que escrevi isto, ainda não vi o filme, mas fica aqui a homenagem a Manuel Menano!