O Aborto
Todos aqueles que falam do aborto têm várias vezes os seguintes argumento que a presidente da Federação Para a Vida, Isilda Pegado, disse sobre as propostas de alteração da lei do aborto pelo governo PS, “são uma tentativa de destruir os valores da vida e da família e um atentado à dignidade da mulher” – primeiro os valores não se destroem, alteram-se, mesmo assim temos que nos perguntar quais são os valores da família, sim quais são esses valores? Será o dos pais repressores que batem nos filhos de cinto? Ou dos maridos que maltratam as mulheres e não as deixam sair de casa e serem independentes? São esses? Ou serão os valores dos pais que obrigam os filhos a trabalhar em vez de estudar ou das mulheres que aguentam maus-tratos anos a fio sem nunca terem a coragem de se divorciarem porque os seus “valores” não o permitem? Serão os valores da sociedade retrógrada e conservadora? Que eu saiba os valores que estão em crise são da família tradicional e esses ainda bem que estão cada vez mais a desaparecer todos os dias vemos exemplos de que as relações familiares estão cada vez mais saudável a mulher está mais independente, os pais mais compreensivos e os filhos mais escolarizados e atentos, nesta nova sociedade existe uma polaridade de valores e isso permite-nos escolher, e não seremos forçados a aceitar. Eu prefiro de longe estes novos valores de família, além disso os valores transversais como o respeito, o apoio, a solidariedade e outros não são propriedade das famílias tradicionais esses valores encontram-se nos novos tipos de famílias. Quanto à dignidade da mulher e aos valores da vida – é evidente que é muito mais digno uma mulher ser arrastada para o escárnio e a repudia social de um tribunal, sendo julgadas e condenadas na praça pública do que realizarem um aborto num hospital com todo o sigilo e confidencialidade a que este procedimento obriga. É preferível milhares de mulheres aparecerem nas urgências, mutiladas para a vida do que realizarem as operações num ambiente controlado feito por profissionais. E é muito digno e pró-vida deixar nascer uma criança que ou irá parar a um orfanato ou viverá em condições deploráveis de vida só devido à nossa ideia de vida e de dignidade humana. Com isto eu pergunto e a dignidade da mulher/futura mãe é inferior à da possível criança que irá nascer? Preferimos o direito à vida do ser que ainda não nasceu ao de uma pessoas que já faz parte do tecido social? E que verá invariavelmente a sua vida degradada ainda mais com o nascimento de um filho indesejado ou que não terá condições de o educar? E quem sabe, prejudicando toda uma família? Será preferível? Eu penso que não. Estas ideias dos anti-aborto, também auto-denominados pró-vida como se todos os outros fossem pela morte!! Que coisa tão estúpida. Mas se os argumentos são tão claros como eu atrás referi porque tanta a discussão? O principal problema é a mensagem que é passada para o publico – é a favor ou contra o aborto? – que raio de pergunta é esta? É evidente que ninguém é pelo aborto, a questão é saber se acham que uma mulher que faz um aborto deve ser presa por isso. Esta é a questão, mas é claro que isto não interessa à direita-ultra-conservadora-radical-religiosa que muito bem para os seus interesses prefere debater “a vida e o direito a ela”. Bom para eles que estão a passar a sua mensagem. Mas o que está a esquerda a fazer? Esses palhaços da esquerda que têm medo de dizer as coisas como elas são não levam a mensagem às pessoas e estão a ser “comidos” pelos da direita que eu já referi.
O argumento é muito simples, imagine que a sua mãe está grávida quer abortar pelas mais diversas razões, punha a sua mãe na prisão por considerar que matou o seu irmã(o)? Prefere perder a sua mãe à possibilidade de ter um irmã(o)? Pensem nisto e da próxima vez que lhe perguntarem “é a favor ou contra o aborto?” você diga que pergunta mais parva de se fazer...